A IDÉIA DE QUE O BRASILEIRO É INDOLENTE É UMA DAS MAIS PARSISTENTE NA CULTURA NACIONAL. A SUA CONSTRUÇÃO VEM DESDE OS PRIMÓRDIOS DA COLONIZAÇÃO E O SEU OBJETIVO É O MESMO DESDE ENTÃO: IMPOR AOS TRABALHADORES REGIMES DE TRABALHO EXAUSTIVOS.
Você já se perguntou por que neste país, em geral, as pessoas falam tão mal de seu próprio povo? No dia-a-dia, as pessoas vivenciam um profundo complexo de inferioridade por serem brasileiras. Mesmo quando elogiam o país, é normal terminarem a frase dizendo que poderia ser melhor. A cada novo plano econômico, os brasileiros, mesmo desconfiados, apostam que ele dará certo, pois estão cansados de viver para o futuro, sem nunca viver o presente. Mesmo sendo otimista, o brasileiro sente-se inferior em relação a outros povos. Por quê?
Complexo de inferioridade
Como tudo tem uma história, o complexo de inferioridade nacional também tem a sua. A origem dela está em nosso passado colonial e vem, através dos tempos, adquirindo outras formas, mas mantendo o mesmo padrão.
O primeiro brasileiro obrigado a viver o complexo de inferioridade foi o índio, o brasileiro natural de nossa terra. O índio não tinha nenhum complexo de inferioridade antes da chegada dos portugueses. Ao contrário, ele vivia numa sociedade bem-estruturada e era orgulhoso das tradições de sua tribo, de seus deuses, de suas glórias nas lutas contra os inimigos. Mesmo tendo de enfrentar as dificuldades de um modo de vida baseado na caça, na pesca, na coleta e numa pequena agricultura, possuía identidade e cultura complexa próprias.
A vida indígena não era um paraíso perdido. Tinham seus problemas, suas contradições. Aliás, é fácil imaginar como foi complicado viver numa sociedade que dependia exclusivamente da natureza. Apenas, é importante perceber que formavam uma sociedade estruturada, com valores determinados (dos quais vocês pode discordar), tinham equilíbrio e se auto-sustentavam (não se conhecem casos de tribos que passavam fome, a não ser que alguma catástrofe da natureza assim determinasse). Quando a terra perdia a fertilidade ou quando a caça, a pesca ou a coleta de uma região escasseavam, mudavam-se para outro local em que pudessem subsistir.
Sua sociedade era organizada entre iguais. Embora houvesse “cargos” (cacique, pajé), todos desfrutavam das mesmas condições de vida, e o alimento era distribuído entre todos. Cada um desempenhava seu papel na sociedade, ou seja, cada um sabia o que devia fazer e como fazer. Possuíam a noção muito clara de que ninguém explorava ninguém e de que suas ações ajudavam de fato sua tribo a sobreviver e a crescer.
Quando os portugueses aqui chegaram, seu objetivo era explorar a colônia, para conquistar, dominar e levar tudo o que achassem que daria dinheiro. A atitude deles em relação aos indígenas foi determinada por esses objetivos. Até quando foi possível obter deles que queriam, trataram-nos como sócios de um negócio, mas quando não puderam mais contar com sua “colaboração”, passaram a tratá-los como inimigos.
Os portugueses não foram os únicos a tratar os povos autóctones dessa forma. Os ingleses, espanhóis, franceses, holandeses e todos os demais povos europeus que naquela época colonizaram o mundo agiram da mesma forma. Os europeus exterminaram milhões de seres humanos a fim de conquistar e explorar as terras que por estes eram habitadas. Apesar de não existirem estatísticas exatas sobre isso, calcula-se que nem as duas guerras mundiais (a de 1914-1918 e a de 1939-1945) mataram, juntas, com todas as armas modernas que possuíam, o mesmo que os europeus nos processos de conquista do novo mundo. Isso foi a colonização.
Theodor de Bry - Século XVI, retratando a visão de um europeu sobre as diferenças entre o mundo dos indígenas e o dos colonizadores.
Fonte:
AGOSTINI, João Carlos. Brasileiro, sim senhor!: uma reflexão sobre nossa identidade. 2ª ed. São Paulo: MOderna, 2004.
Assistam ao vídeo Matriz Tupi de Darcy Ribeiro:
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