Por mais óbvia que pareça, deve ser levantada a seguinte indagação: o que entendemos por africanos? A resposta é imediata: Os habitantes da África. O problema, entretanto, permanece, pois não esclarece o que entendemos por habitantes da África. É necessário qualificar um pouco essa resposta para que não caiamos nas simplificações tentadoras. Devemos insistir que estamos falando de seres humanos vivendo em sociedade. Assim, são iguais a todos os demais homens e mulheres deste planeta. Por outro lado, como vivem em sociedade, criam padrões comportamentais, linguísticos, culturais, alimentares, religiosos, de honra, de virilidade, de tabus etc. E são estes padrões que nos interessam entender, pelo menos no que diz respeito à lógica que permitiu sua transformação através do tempo. Decorre disso um problema. “Africano” nos sugere, a princípio, uma ideia de unidade e um padrão próprio dos habitantes do território identificado como África; mas o que nos interessa é a diversidade que se esconde por trás dessa aparente mesmice. Se podemos tratar a todos sob um mesmo rótulo – africanos, certamente a diversidade dos modos de vida e cultura não pode, nem deve, ser desconsiderada. A denominação não pode ofuscar diferenças substantivas.
“Negros” não correspondem a uma descrição exata dos nativos do continente, por dois motivos. Primeiro, porque tal título joga luz em aspectos físicos, ou melhor, na aparência, o que mantém o foco no quadro da natureza e não da sociedade. E, em segundo lugar, porque nem todos são negros. Há que se considerar as diferenças existentes entre os povos do norte (berberes e mouros) e os do sul, abaixo do deserto do Saara. Acrescente-se a isso o fato de que após séculos de dominação colonial, as presenças de outros fenótipos também se fazem presentes em decorrência da miscigenação. Assim, encontramos africanos – na medida em que nasceram no continente e se sentem parte do mesmo – negros, mestiços e até brancos. A cor da pele não nos parece um critério válido para definir a identidade dos indivíduos, nem sua inserção social e cultural.
Por mais que seja justificada a apreensão dos povos sob o mesmo nome de “africanos”, não podemos nunca esquecer de que esses povos instituíram diferentes padrões sociais, viveram e vivem histórias diferentes, por mais que tenha havido trocas entre eles. E mesmo fisicamente estes povos não são idênticos. A ideia de uma unidade dos povos que habitavam o continente é tardia quando no século XIX inaugura-se um discurso pan-africano que via os africanos “como sendo um único povo (...) como uma unidade política natural” (APPIAH, 1997). Para os habitantes do continente não havia os “africanos”: as identidades existentes tinham como referência os grupos imediatos e locais. Só após os contatos com os povos dos outros continentes, especialmente os europeus, é que foi sendo construída a ideia de “africanos”.
No primeiro momento, esta “identidade” foi estabelecida pelo europeu a partir de um duplo desconhecimento. De um lado, ignoraram as diferenças entre os povos que encontraram, tantando-os como únicos, pois possuíam a mesma aparência de negros. Como disse Darcy Ribeiro em sua obra O POVO BRASILEIRO, sobre a diversidade linguísticas dos povos africanos:
A África era, então, como ainda hoje o é, em larga medida, uma imensa Babel de línguas. Embora mais homegêneos no plano cultural, os africanos variavam também largamente nessa esfera. Tudo isso fazia com que a uniformidade racial não correspondesse a uma unidade linguístico-cultural, que ensejasse uma unificação (...). (RIBEIRO, 2006)
Mesmo quando sabiam que tratavam com povos diferentes, como no caso do tráfico de escravos, insistiam em tratar todos sob o rótulo comum de “negros” ou africanos. Duas denominações que tinham a propriedade de reduzir os seres humanos concretos a categorias indicadoras da origem ou da aparência. A Segunda ignorância que orientou essa simplificação foi a de negar a humanidade daqueles povos. Ao não se reconhecer nos povos africanos, o europeu, que se supunha ser a essência da humanidade e da civilização, negou a humanidade daqueles bípedes de pele negra. Entendia que os negros eram mais um elemento da natureza africana, semelhante aos bichos e rios.
Assistam ao vídeo aula. A África antes do século XV
Nesta teleaula você constará que nem sempre as imagens que chegam até nós falando da África refletem a complexidade e a riqueza da sua História. Aprenderá que este continente é considerado o berço da humanidade, pois, ali, os primeiros humanos começaram a migrar e povoar a Terra. Além disso, verá que a África produziu povos e civilizações de grande importância cultural e econômica que marcaram a Antiguidade, como o Egito, o reino de Kush e a cidade de Cartago.
Vídeo:
Vídeo 02:
Referência Bibliográfica
APPIAH, K. Na casa do meu pai. Rio de Janeiro: Contrapondo, 1997, p. 22 ARNAUT, Luiz. LOPES, Ana Maria. História da África: uma introdução. Belo Horizonte: Crisálida, 2005. RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Simplesmente fantástico!
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História se conta mesmo assim !
beijo
Então aqui no rio deveria nanscer preto de tanto calor que faz aqui
ResponderExcluirEntão aqui no rio deveria nanscer preto de tanto calor que faz aqui
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